terça-feira, 19 de outubro de 2010

COMUNICADO do SOS Parque da Água Branca

Desde agosto de 2010, o SOS Parque da Água Branca - Movimento em Defesa do Parque Dr. Fernando Costa/Parque da Água Branca, está mobilizado para tentar evitar que os gestores do Parque descaracterizem este patrimônio histórico paulista.

O Movimento sabe que suas reivindicações não estão sendo atendidas. Entregamos cópias do abaixo-assinado ao Fundo de Solidariedade do Estado de São Paulo e ao Secretário de Agricultura, porém até hoje não tivemos qualquer retorno.

As obras na área das nascentes, denominada de Bosque das Palmeiras, só foi paralisada porque denunciamos ao Ministério Público que ela estava sendo realizada em área de proteção permanente (APP), e a Cetesb emitiu uma autorização posterior a obra começada o que nos parece, no mínimo, uma irresponsabilidade. Até o momento, o DAEE e a direção do parque não apresentaram ao SOS Parque da Água Branca qualquer resposta a este problema e explicações a respeito de tal arbitrariedade.

Não houve qualquer manifestação formal dos administradores do parque com relação ao desmatamento ocorrido no sub-bosque da Trilha do Pau-Brasil e nem aos cortes ilegais, apontados no laudo do Ministério Público, que são alvo de Inquérito Civil, aberto pelo promotor Dr. Washington Lincon de Assis. Ainda pior, a direção do parque continua afirmando à imprensa que nesta área foi feita a limpeza de entulho, lotando seis caçambas. Como é possível denominar de lixo e entulho o sub-bosque e a vegetação rasteira?

Após todas as ações junto ao Ministério Público, não verificamos qualquer mudança de atitude com relação à retirada das áreas verdes do parque, muito pelo contrário. O que podemos constatar é que todas as áreas onde havia sub-bosque e vegetação rasteira foram retiradas sem qualquer critério de preservação do verde existente. Mais de 70% das mudas que foram plantadas recentemente morreram, pois as espécies não são adequadas e foram colocadas em solo seco, sem o devido preparo prévio. Este plantio também não respeita qualquer critério técnico de reflorestamento que determina que ao redor de uma espécie maior, devem ser plantadas as sub-espécies que lhe dão a devida sustentação e compõe uma verdadeira mata.

Reivindicamos que este parque possua um conselho deliberativo e que o movimento SOS Parque da Água Branca possua cadeira com direito a voto e de peso equilibrado, pois representamos mais de 4.800 cidadãos abaixo-assinados.

Por fim, o Parque da Água Branca necessita de uma unidade administrativa e que esteja sob direção da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, pois acreditamos que este é o melhor caminho para que o Parque receba os cuidados necessários para a sua preservação, manutenção e enriquecimento de sua fauna e flora. Queremos que o patrimônio seja preservado e mantido dentro de suas características rurais.

O Parque Dr. Fernando Costa /Parque da Água Branca é tombado pelo CONDEPHAAT (estado) e CONPRESP (município) como bem cultural, histórico, arquitetônico-urbanístico, tecnológico e paisagístico.

domingo, 10 de outubro de 2010

A destruição do Parque da Água Branca


Fonte: FSP, Tendências/Debates, p. A3 - 08/10/2010
Autores FAVARETTO, Celso; CUNHA, Cilaine Alves; MUSSE, Ricardo

Não deixa de ser inusitado inquietar-se, neste momento, com a paroquial remodelação de um parque público. Entretanto, talvez seja oportuno trazer à baila assuntos marginalizados por uma agenda concentrada -e não só no período eleitoral- nos procedimentos de aprimoramento da produção e distribuição de riquezas.

Experiências do cotidiano permitem aferir nossa desatenção ao modelo de sociabilidade, de relação com a história e a natureza; em suma, ao processo civilizatório em implantação no país.

Na entrada do Parque da Água Branca, em São Paulo, placas anunciam "restauro e reforma de prédios". Quem o adentra depara com obras de conservação de edifícios deteriorados, mas também com uma radical alteração de sua concepção paisagística e sociocultural, que extingue suas características de espaço ímpar de lazer e fruição da natureza.

A vegetação rasteira, que atapetava árvores frondosas, cada dia menos numerosas, e arbustos como hibisco e dracena foram substituídos, em boa medida, por pedregulhos.

Essa versão "fake" de jardim europeu destruiu o habitat de galinhas d'angola, gansos, pavões e micos que perambulavam livremente e davam ao parque um charme diferencial.

Como já noticiado, o primeiro movimento de reformulação consistiu na derrubada de árvores. Os responsáveis pela reforma adiantaram três critérios "técnicos" para uma nova rodada de extração de árvores: 66 pínus, pois seu tipo de raiz torna a árvore instável; árvores pioneiras ou "senis", que teriam completado sua função ambiental e podem tombar; e qualquer outra árvore envolta por erva de passarinho, sujeita à invasão de cupins.

Delineia-se, portanto, uma remodelação que ameaça o ecossistema vigente, desfigurando os enclaves de Mata Atlântica, apesar de seu tombamento.

Os espaços passaram a ser rigidamente controlados. Em diversos ambientes ao ar livre agora é proibido comer. Namorados são instruídos a evitar abraços e beijos.

Na praça dos idosos só podem permanecer os que têm mais de 60 anos, vetando-se a amigável convivência entre as diversas faixas etárias. A ampliação generalizada de lugares destinados a exercícios físicos tende a transformar o parque em uma academia a céu aberto.

A domesticação da mata concretiza ideal de assepsia que parece não levar em conta a história do local e as necessidades dos usuários.

O desconforto de muitos frequentadores diante dessa higienização da natureza e do ambiente cultural foi reforçado pela remoção do "Revelando São Paulo", uma exposição anual, no centro do mundo urbano, de tradições caipiras e culturas rurais remanescentes de todo o Estado.

Projeta-se, ainda, instalar na Casa do Caboclo -ponto de violeiros e da disputada cavaca, com paredes de taipa e chão de terra batida- jardins e pisos intertravados.

Realiza-se, assim, uma desruralização do parque, em favor de uma racionalização que diminui as oportunidades de convívio com a natureza e reforça ainda mais a cultura do cimento e do concreto.

Celso Favaretto, 68, Cilaine Alves Cunha, 47, e Ricardo Musse, 48, são, respectivamente, professores de estética, literatura brasileira e sociologia na USP.

FSP, 08/10/2010, Tendências/Debates, p. A3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0810201008.htm

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Frequentadores fazem manifestações no Parque da Água Branca, participe você também!

Todo sábado às 10:00h, acontece um encontro para atualizar as ações, troca de informações e manifestação. Como a sede da ASSAMAPAB está em reformas, o ponto de encontro é na feira de produtos orgânicos.


Nos sábados 25 de setembro e 2 de outubro, dezenas de frequentadores manifestaram publicamente suas opiniões com relação às obras, falta de cuidado com os animais, corte irregulares de árvores e propostas que descaracterizam o parque.
  

 



No dia 23, com uma grande faixa preta escrito "SOS PARQUE DA ÁGUA BRANCA", passearam pelo parque chamando atenção do frequentadores para os problemas que estão ocorrendo por detrás das obras. A faixa foi fixada no tapume ao lado de uma das nascentes do parque, que faz parte do Bosque das Palmeiras, onde uma grande intervenção - obra mal planejada - está colocando em risco a mata e as nascentes que lá existem.





Já no dia 2, com cartazetes no peito e nas costas, passearam pelo parque conversando com os demais, procurando conscientizar aqueles que ainda não sabem dos detalhes das obras. Todos que pararam para conversar, manifestaram-se solidários ao Movimento em Defesa do Parque da Água Branca.






Observações na caminhada

Com as obras nas alamedas, infelizmente não é dificil encontrar locais que oferecem riscos, principalmente às crianças, como na foto abaixo,  onde há um buraco com proteção inadequada.




Outra coisa que chamou bastante atenção foi uma caçamba cheia de livros antigos, do Instituto de Pesca. Livros que estão sendo descartados, mas que, com certeza, serviriam em outros locais. Dando uma olhada e encontramos livros de zootecnia e dicionários.





Raridade - Na caçamba encontramos este exemplar ilustrado de zootecnia, com mais de 1.000 páginas e datado de 1903, editado pelo Smithsonian Institute.





Pudemos observar também várias mudas secas, provavelmente árvores de replantio e arbustos recém plantados, parte do "novo paisagismo" proposto.

Mudas de árvores, mortas. 

Mudas de árvores, mortas.Detalhe
Arbustos secos