terça-feira, 23 de novembro de 2010

Parque da Água Branca: a caixinha de surpresas do governo estadual

Após a derrubada de árvores sadias e protegidas como patrimônio histórico e ambiental, ameaça aos mananciais contidos no parque e a falta de cuidado aos pavões, patos e pássaros abrigados no Parque, a mais nova surpresa promovida pelo governo do Estado no Parque da Água Branca é a demolição parcial do pergolado - estrutura de suporte a uma cobertura vegetal florida, contendo bancos de descanso à sombra em seu interior.

O pergolado deixará de ser um espaço belo, florido e sombreado aberto a todos para se transformar num auditório fechado, de gosto e qualidade duvidosos, aberto só quando, e para quem, o governo estadual quiser.

É evidente a intenção de elitização, tanto da aparência quanto da frequência do parque. Eliminação da vegetação cerrada por motivos de segurança, fechamento do pergolado, transformação do tattersal em auditório chique, colocação de "ombrellones" italianos na área de leitura, cujo acervo privilegia as grandes editoras que apóiam o governo.

Ao contrário da Sala São Paulo - que transformou uma antiga estação ferroviária numa sala de concertos preservando sua arquitetura - onde a acústica foi considerada pelo arquiteto Nelson Dupré, autor do projeto, como a "esposa mandona" que não podia ser contrariada, o novo auditório previsto para ocupar o pergolado será precário em conforto acústico tanto do lado de fora quanto dentro. Próximo da rua, será invadido pelo barulho dos ônibus, e quem procura o parque para "ouvir o silêncio" será obrigado a ouvir o barulho que for produzido pelo auditório.

O Movimento SOS Parque da Água Branca - que congrega pessoas e entidades ambientalistas e de defesa do patrimônio histórico - acionou o Ministério Público estadual para impedir essas obras, por considerá-las ilegais até mesmo com a aprovação do Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado. Além dele, o parque é igualmente tombado pelo órgão municipal de proteção ao patrimônio histórico - o Conpresp - que também foi acionado.

Além de agredir os patrimônios ambiental e histórico da cidade e do estado de São Paulo, a reforma do Parque tombado derruba também a boa gestão pública. As obras estão sendo conduzidas em conjunto pelo Fundo Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural e pela Secretaria de Estado da Agricultura. O Fundo de Solidariedade deveria se dedicar à assistência social às camadas mais necessitadas da população. Sua atividade mais famosa é a Campanha do Agasalho, que a cada inverno recolhe doações de roupas usadas. A função da Secretaria da Agricultura é promover a pesquisa, a produção, a distribuição e comercialização de alimentos. Nenhuma das duas missões é compatível com a construção de auditórios de luxo - ainda que precários - promoção de audições e concertos em bairros valorizados e, sobretudo, com o desrespeito ao meio ambiente e à história da cidade e do estado
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8 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de acrescentar, que além dos fatos já mencionados, os estacionamentos que eram públicos serão explorados comercialmente, cobrando taxas dos frequentadores.

Adir disse...

Depois de 11 anos o Revelando São Paulo de 2010 foi removido do Parque da Água Branca, acredito que foi pelo motivo da patuléia encher o Parque durante uma semana do evento, fiquei bem chateado com o fim desse que era um dos mais representativo dos costumes e tradições do Interior Paulista. Por outro lado, foi o próprio paulista-paulistano que escolheu o que está aí para governar essa manada bovina que elegeu Alckimin e o Tiririca. Bem feito!

Cendira disse...

Uma desgraça!
O que ocorre hoje com o parque é mais um exemplo da atrasada e
equivocada compreensão de desenvolvimento que vigora nesse país ignorante.
Um auditório no meio do parque é mais um dos absurdos inconcebíveis até então, precisamos de sossego e paz! Precisamos apenas de espaço e silêncio!

Beto disse...

Ontem estive conversando com a senhora que é concessionária da lanchonete. Ela diz que os carrinhos de lanche e a lanchonete dela serão extintas, em prol de uma praça de alimentação a ser montada dentro do prédio da sede. É louvável a preocupaação da higiene, e até a proibição dos ambulantes, mas me parece claro que dentro de um parque se espera uma área ao ar livre, com sucos de fruta e lanches para quem passeia ou pratica uma caminhada. Tornar a lanchonete interna é só mais dos sintomas dessa reforma totalmente equivocada.

Jupira disse...

Diante do show de horrores pago com dinheiro público, que é a gestão do Parque da Água Branca nos últimos meses, não sei o que mais faz a gente gritar e ter pesadelos – se é o paisagismo de condomínio implantado pela Presidente do Fundo de Solidariedade - FUSSESP (cargo que não é ocupado pela qualificação da pessoa, mas pelo fato da pessoa ser esposa do Governador), se são as retro-escavadeiras nas nascentes e olhos d’água, contratadas pelo DAEE para projetos da Secretaria de Agricultura, se são as aprovações do Condephaat, da Secretaria de Cultura, posteriores as contratações das obras ou com projetos incompletos e que desrespeitam os tombamentos, se são as respostas das ouvidorias das secretarias e órgãos estaduais ou se é o total apoio do Governador do Estado de São Paulo às obras e intervenções que desrespeitam a legislação e o interesse dos cidadãos.

Anônimo disse...

ISSO TUDO É MUITO ABSURDO ! UM CRIME !!!VCS TENTARAM PASSAR ESSE ASSUNTO NA RADIO CBN ?
ELES SEMPRE AJUDAM ESSE TIPO DE CAMPANHA..

luis fernando souza disse...

Temos que dar os nomes de todos os bois!
Só a publicidade pode barrar esse absurdo. A imprensa não se interessou? É de se esperar. Toda cobertura pode ser amaciada e até vetada dentro de suas edições. A quem interessa toda essa reforma? Se 5 mil pessoas assinantes do abaixo-assinado não merecem respeito, alguém vai ganhar muito com isso.
O que o Ministério Público disse?
Farei o possível para esta presente à reunião de sábado.
Abraços e obrigado pela manutenção da luta.

Antonio José disse...

Lamentável mais uma vez... homens públicos com interesses particulares. É mais fácil jogar na mão da administração privada do que gerenciar com os órgãos e funcionários públicos dependurados em seus cargos. Cabe uma pergunta. Esses funcionários serão demitidos ou engordarão ainda mais a folha do estado em não fazer nada. Já basta a cobrança do IPVA e dos pedágios. Ou uma coisa ou outra.

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