sexta-feira, 3 de setembro de 2010

SOS Parque da Água Branca

Desde abril os frequentadores do Parque da Água Branca estão sendo surpreendidos com inúmeras intervenções na vegetação e nos espaços edificados. A explicação destas intervenções começaram a aparecer na imprensa, após as reclamações sobre a descaracterização do Parque.

Foi amplamente noticiado que a Presidente do Fundo de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado, Sra. Deuseni Goldman, que assumiu este cargo em abril deste ano, com a posse do seu marido como governador, quer deixar uma marca na sua gestão e fazer melhorias no local, onde fica a sede da instituição que preside. A depender da fonte, uma verba de 5 a 12 milhões de reais será utilizada para a realização de projetos antigos de reparos, manutenção e prevenção e outros sugeridos pela Sra. Deuseni.

Levando em conta que o atual governador e sua senhora assumiram seus cargos no início de abril deste ano, o tempo disponível para elaboração/revisão de projetos, orçamentos e concorrências públicas (pelo menos duas obras ultrapassam um milhão de reais, de acordo com as placas afixadas) é extremamente curto, quase impossível de ser cumprido em se tratando da esfera pública. O dinheiro pode ter sido liberado como verba emergencial, o que dispensa a concorrência, mas não dispensa projeto. E a maioria das obras listadas, não têm nada de emergencial.

Tudo que é feito correndo corre o grande risco de ser mal feito.

Atualmente, sabemos que:

  • O Tattersal foi reformado e agora é um auditorio todo equipado.
  • Parte da vegetação do parque foi removida para ser criada a trilha do Pau Brasil, na lateral da rua Ministro Godoy.
  • Os estacionamentos estão fechados para reforma e posterior privatização.
  • O sistema de galerias de coleta de água pluvial vai ser reformado, e no mesmo contrato consta o projeto que propõe alterações no bosque das palmeiras (atualmente sem acesso para o público) com a criação de uma nova trilha que se aproxima de uma das nascentes do parque. Esta trilha terá piso de madeira e piso intertravado, também serão reformados os tanques de peixes desta área e calçado (piso intertravado) uma de suas laterais, onde tem os aparelhos de ginástica e a casa do cabloco. Com direito também a um deck sobre o lago negro.
  • Um dos prédios será destinado à uma praça de alimentação.
  • Mais de 30 árvores foram cortadas  outras 40 serão, por terem concluído seu ciclo natural de vida ou por estarem apresentando problemas de segurança (risco de cair) segundos os técnicos do governo. Resultado de uma longa falta de manutenção.
  • O asfalto dos passeios e alamedas serão substituídos por concreto.
  • Foi criada a praça de leitura, onde a há muito tempo foram os viveiros, com piso de pedrisco.
  • As pombas serão retiradas do pombal, que também será restaurado.
  • O espaço para pic-nic está sendo reequipado.
  • O Parque ganhará nova iluminação  para poder ficar aberto até às 22h.
  • Será criada a praça do café, com a instalação de um café no local.
  • Será criada a praça das orquídeas.
  • O aquário será ampliado.
  • O pergolado será restaurado e ganhará um deck para eventos.
  • Será drasticamente reduzida a população de aves soltas (marrecos, galos, gansos, patos, pavões etc),  e/ou serão todos engaiolados (ai há uma divergência de informações).
  • Estão sendo restaurados boa parte dos prédios (troca do telhado e nova pintura externa).


Olhando esta lista tem-se a impressão que são grandes benefícios para o parque, alguns realmente são. Outros estão sendo muito questionados. E também é fácil de perceber que praticamente o parque inteiro estará em obras e duas questões fundamentais se impoem:

(1) O Parque da Água Branca tem uma característica singular, que o difere de todos os outros parques da capital. Que é justamente esta paisagem rural, meio mata (floresta urbana), meio fazenda. Com jardins que não foram pensados por um paisagista, mas que não deixam de ser belos do mesmo jeito. Com muitas aves soltas e alguns mamíferos, convivendo com os frequentadores há anos. Tão importante é este "ambiente", que seu tombamento pelo patrimônio histórico (Condephaat) em 1996 diz claramente que esta paisagem TEM de ser preservada, juntamente com os prédios, e por isso dezenas de frequentadores estão se mobilizando e questionando a administração.

Será que uma gama tão grande de obras e propostas está levando em conta que se deve preservar esta singularidade, que é uma das coisas mais importantes neste parque? Ou estarão jogando a criança junto com a água do banho?

Infelizmente tudo indica que esta não é uma preocupação dos gestores e técnicos envolvidos. A Associação Amigos do Parque solicitou três reuniões para esclarecimentos de alguns pontos. Estas reuniões tiveram a presença da direção do parque, repesentante do Fundo Social, de técnicos (engenheiros agrônomo e florestal) e dezenas de frequentadores.

Nas reuniões ficou claro que:
  • Há uma clara divergência entre a visão do técnico e o conceito de parque defendido no tombamento e pelos freqüentadores. Nas conversas, os técnicos não conseguiam enchergar o parque como um todo, prendiam-se a parcialidade de um projeto ou a visão de sua especialidade. Não conseguiam perceber o parque como um patrimônio histórico, cultural, paisagístico e ambiental da população de São Paulo. Porém são os responsáveis por projetos que alteram significativamente a paisagem e ecossistema do Parque.
  • Os projetos não conversam entre si. O Parque sequer tem um Plano de Manejo Ambiental definido.
  • Existe uma grande influência da primeira dama do governo na administração do Parque.
  •  Não há interesse dos gestores do Parque em construir as propostas com os frequentadores.
Corremos o risco de, ao final de todas estas obras,  vermos o Parque significativamente prejudicado.


(2) Especificamente em relação à fauna e flora e as alterações propostas. Ações que interferem diretamente no equilíbrio do ecossistema do parque, como iluminação e público noturnos, retirada de vegetação, aproximação do público às nascentes, cobrir a terra com pisos e pedriscos, muitas obras acontecendo ao mesmo tempo afugentando animais, redução e aprisionamento das aves.

Foi realizado um estudo para se avaliar o impacto de todas as alterações na fauna e flora a curto, médio e longo prazos?

Existe um plano de cuidado dos animais durante as obras?

Os operários, engenheiros e demais técnicos envolvidos foram orientados quanto ao cuidado que deverão ter com plantas e animais durante estas obras? Há não muito tempo, foi feita uma denúncia por voluntários que cuidam dos animais, que os próprios funcionários (efetivos e terceirizados) do Parque, roubavam ovos (das pavoas, inclusive) e aves filhotes e adultas.

Qual é a garantia de manutenção futura do Parque? Haverá recursos financeiros e pessoal técnico especializado – agronomos, jardineiros, veterinários – para a boa gestão e manutenção?

Qual a garantia de que o Parque não continuará a mercê da descontinuidade das mudanças políticas e a cada novo gestor, novas alterações?

Em 1976 a Secretaria de Agricultura tentou implantar no parque novos estacionamentos (subterrâneos) e um setor comercial, dentre outras propostas. A organização e pressão dos usuários, contrários a esta proposta (ou seria visão de parque?) conseguiu impedir as mudanças. E foi justamente esta movimentação popular que culminou com o tombamento do parque e a formação da Associação de ambientalistas e amigos do Parque.

3 comentários:

Recebido por e-mail disse...

Concordo com a manifestação, não aprovo a eliminação da vegetação que margeia a Rua Ministro de Godoy, criando uma área desnecessária, invadindo um espaço natural e o abrigo de animais, a um custo discutível.
NOTA ZERO!

Anna Rosano

Enviado por e-mail disse...

NOTA ZERO PARA O ESPAÇO PAU BRASIL, ABSOLUTAMENTE DESNECESSÁRIO, E A UM CUSTO ALTO PARA A VEGETAÇÃO E OS ANIMAIS.
LAMENTÁVEL!

Durval Rosano

Enviado por e-mail disse...

Frequento o Parque da Água Branca diariamente e sou uma das muitas testemunhas da descaracterização do local promovida pala atual primeira dama do Estado, e não consigo entender quais os objetivos dessa senhora. Sugiro que se procure o ex secretário da Agricultura de São Paulo, senhor Francisco Graziano que, quando de sua gestão fez grandes melhorias no Parque tornando-o novamente um lugar agradavel depois de anos de abandono.

Atenciosamente,
Eliane

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